Começo a maioria das minhas apresentações com um ecrã em branco. Além do óbvio apelo à concentração, é a forma mais eficaz de espelhar o início do processo criativo: a chamada, e não menos vezes temida, tela em branco


Já aqui escrevi sobre a absoluta necessidade do Design ter de ser sustentado num processo estrutural como qualquer outra disciplina de projecto. Embora esta não seja uma estratégia desenhada para impedir as tão indesejadas interferências no resultado final, é sem dúvida um trunfo precioso para evitar que tal aconteça. Sem prejuízo da solução final, creio que o próprio processo de cada projecto deve ser bem percorrido na sua apresentação. Mais do que atirar para cima do cliente um resultado — que pela sua aparente aleatoriedade é ainda bastante permeável nesta fase — construir o discurso com princípio, meio e só depois o tão aguardado fim é a solução que oferece melhores condições para o explicar convenientemente. Primeiro, porque resumir o processo de criação permite relembrar os pontos do briefing inicial enquanto se revela a forma como foram abordados, ultrapassados, repensados ou redefinidos. Depois, porque cria espaço para expor as dúvidas encontradas, explicar o caminho seguido e justificar as opções tomadas, mantendo o cliente na mesma página que nós ao longo do percurso. Mais importante, construir um preâmbulo completo facilita o enquadramento da discussão do projecto no âmbito dos seus objectivos e estratégia e não tanto em soluções cromáticas e composições gráficas.

(...) Para complicar, muitas vezes o que o cliente quer, não é de todo aquilo que precisa. Porém, em vez de aceder ou rejeitar cegamente todos os pedidos, é mais proveitoso tentar perceber a fundo as razões pelas quais o levam a materializar a solução de uma determinada forma, em detrimento da solução proposta.

Naturalmente, não se erradica por completo os ímpetos e desejos do cliente em sugerir, intervir ou modificar aspectos de natureza estética. Para complicar, muitas vezes o que o cliente quer, não é de todo aquilo que precisa. Porém, em vez de aceder ou rejeitar cegamente todos os pedidos, é mais proveitoso tentar perceber a fundo as razões pelas quais o levam a materializar a solução de uma determinada forma, em detrimento da solução proposta. Pela minha experiência, na maioria dos casos, encontram-se hesitações ocultas que lhe causam incertezas. Sem as discutir abertamente, a opção que tem é resolvê-las pelos seus próprios meios. Isto é: sugerir alterações. É raro, no entanto, estas alterações obterem o efeito pretendido, com a agravante de apenas se reconhecerem as suas fragilidades em fases avançadas da implementação, quando já não há volta a dar. Identificar primeiro e cautelosamente o foco do desconforto permite, pelo contrário, reenquadrá-lo nas premissas conceptuais do projecto, o que torna mais fácil discutir e negociar o que pode ou não ser feito para o resolver. Além de se obter um resultado mais consistente e coeso, também a cumplicidade da relação cliente-designer sai a ganhar.


Procuro não me esquecer que do lado do cliente está também uma pessoa sobre a qual recai algum tipo de pressão. Ou porque tem um cargo numa organização a quem tem que prestar contas, ou simplesmente porque está investir em nome próprio e não quer ver os seus planos pessoais saírem furados. Seja em que circunstância for, a pressão origina a enorme tentação de controlar (e por vezes asfixiar) o resultado final. Como designers, acredito que mais do que prestadores de serviços temos de ser parceiros do cliente e, como tal, começar com uma tela em branco é no fundo partilhar uma angústia. Não é nenhuma fórmula mágica, é apenas bom senso.