Guimarães - Uma identidade em dois actos
Identidade Visual
1.º Acto: Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura
Uma Capital Europeia da Cultura é um iniciativa europeia que tem como intuito a aproximação das diferentes culturas que desenham o espaço europeu. Nesse sentido, ao desenvolver a identidade visual para o ano de Guimarães, procurámos sobretudo um conceito capaz de absorver a variedade cultural, abrindo a marca à comunidade e celebrando a sua diversidade.
O desenho base reflecte Guimarães naquilo que é verdadeiramente diferenciador, reconhecido nacionalmente e único na história de Portugal: o papel na fundação da nação. Nesse sentido, o símbolo agrega, alegoricamente, a muralha, a viseira do elmo de D. Afonso Henriques e é rematado sob a forma de coração, em evocação do orgulho dos vimaranenses em relação à sua cidade.
Porém, não era intenção tornar esta representação um fim em si. Uma cidade com as fundações presentes como Guimarães, mas de olhos postos no futuro, não pode ser definida como um espelho histórico e científico do passado. O legado é um ponto de partida sólido mas o futuro depende da reinterpretação e regeneração de conceitos antigos e da vontade presente de inovar. Garantida a pertinência histórica e adequação cultural, o símbolo foi desenhado para ser visualmente distintivo e salvaguardar o seu reconhecimento nas mais diversas variações gráficas, reunindo as condições necessárias para se tornar numa base sólida e consistente, potenciadora de explorações gráficas múltiplas. Uma janela aberta a cada visão pessoal ou uma tela em branco para qualquer expressão individual. Inicialmente composta por 26 variações gráficas, a ideia base seria criar um reportório gráfico sem limite, reflexo da variedade, multiplicidade e diversidade cultural, abrindo para isso a possibilidade da criação e utilização de novas versões gráficas do símbolo. Uma marca orgânica e de todos, tal como o evento em si.
«O público é composto de indivíduos, todos eles diferentes; posso mostrar ou oferecer uma certa coisa, e cada um reagirá segundo a sua própria sensibilidade. Cada pessoa do público faz parte do espectáculo: é importante que cada um tenha uma relação pessoal com aquilo que se passa.»
Pina Bausch
«A sociedade é que valida»
Sabíamos de início que o sucesso deste projecto estava intrinsecamente relacionado com a sua aceitação pela comunidade vimaranense. Independentemente da pertinência da solução, do raciocínio conceptual base ou do resultado gráfico e estético, se a marca da Capital Europeia da Cultura falhasse na criação de uma relação emocional efectiva com a população de Guimarães, não estaria a cumprir a sua função principal.
Mais do que cumprir, a marca Guimarães 2012 ssuperou expectativas. Desde a adopção generalizada do coração como símbolo de Guimarães, incluindo-o na retórica visual associada à cidade, à sua utilização personalizada em cada montra da cidade, formas de bolos e mesmo tatuagens, diversas manifestações, formais e informais, provaram, inequivocamente, como o coração se tornou central em Guimarães. De forma inédita, a identidade da Capital Europeia da Cultura enraizou-se na cidade e na sua população.
A 22 de Dezembro, lia-se assim no semanário Expresso: «O símbolo de Guimarães 2012 venceu os limites do evento e transformou-se em metáfora de uma cidade que, a pretexto de ser capital europeia da cultura, quis mostrar que não é apenas um espaço de memória história. » (...) «É impossível, para quem visita Guimarães, ficar indiferente à infinidade de variações criadas para o coração enquanto símbolo da capital da cultura e colocadas em todo o tipo de estabelecimentos, como sinal de adesão e pertença». Melhor era impossível.
2.º Acto: Câmara Municipal de Guimarães
Em 2014, dois após a Capital Europeia da Cultura, propuseram-nos olhar para a identidade da Câmara Municipal de Guimarães. Evoluir o sinal gráfico de uma marca como a de Guimarães 2012, cujo um passado havia sido prolífico e vibrante, revelou-se sem dúvida um desafio sensível. O símbolo da CEC ultrapassou o âmbito restrito do evento, cumprindo mais do que as suas funções institucionais. Além de ter criado relações emocionais fortes com a comunidade vimaranense, transformou-se simultaneamente, e em tempo recorde, numa insígnia popular, tendo sido adoptada como parte da identidade da cidade. Naturalmente, a criação de uma marca para Guimarães justificava a apropriação da sua simbologia, capitalizando o legado emocional desenvolvido. Contudo, tornou-se igualmente evidente a necessidade de vincar esta nova fase, diferenciando-a da identidade anterior.
A marca Guimarães que criámos ostenta orgulhosamente o coração que foi símbolo da Capital Europeia da Cultura, enquadrando-o agora numa circunferência. A opção por uma forma gráfica simples cumpre um duplo objectivo. Em primeiro lugar, ao forçar a utilização do símbolo em negativo dentro de uma forma nova, reforça o renovar da abordagem, sem romper com o passado. Por outro lado, ao não adicionar novos elementos simbólicos, permitiu que o coração fosse apropriado pelo município de forma natural e sem atrito.
Do ponto de vista da comunicação, a nova marca assumiu por completo a herança da CEC, sem no entanto tornar obsoletas todas as manifestações anteriores. Assente sobre um legado próspero e consolidado, permitimos assim que a marca Guimarães pudesse crescer além dos moldes passados. Por outro lado, institucionalmente, criámos as condições necessárias para que a sua identidade fosse adoptada pelo município, salvaguardando o seu carácter distintivo e garantindo-lhe, simultaneamente, flexibilidade formal para a variedade de declinações previsíveis.
A história de amor iniciada em 2012, conheceu, assim, o seu segundo capítulo.