Invariavelmente, sempre que falo com amigos ou colegas designers, a conversa toca nesta verdade aparente, mas também facto incontornável. Acredito que sejam poucos os designers que se possam gabar de, no decorrer da sua actividade profissional, nunca terem enfrentado a superficialidade das discussões de gostos, intuições, apetites e humores, que raramente se mantêm no âmbito do projecto e, consequentemente, na sua resolução.
É certo que ser designer gráfico envolve, em parte, lidar com cores e tipos de letra, formas e alinhamentos, imagens e composições. Tudo ferramentas com um elevado impacto estético. Porém, o resultado deve servir propósitos objectivos, o que implica naturalmente uma forte dimensão funcional e um carácter eminentemente estratégico. A dificuldade reside em construir e expor argumentos objectivos, quando os olhos estão inevitavelmente virados para o subjectivo.
Num mundo perfeito, o cliente final — ou o interlocutor que o representa — seria igualmente um designer, mas fora do activo. Assim, teríamos o melhor de dois mundos: sermos necessários e compreendidos. Infelizmente (ou talvez não), não é assim que a maioria dos projectos se apresenta, pelo que é fundamental aprender a ser designer no mercado do trabalho.
Num mundo perfeito, o cliente final — ou o interlocutor que o representa— seria igualmente um designer, mas fora do activo. Assim, teríamos o melhor de dois mundos: sermos necessários e compreendidos.
Sem pretender resumir este tema, que tem claramente pano para mangas, existe um ponto que à partida me parece essencial: não tentar vender o design como uma disciplina sem definição, como se de uma actividade mística, etérea ou divina se tratasse. Não é assim que se ganha credibilidade profissional e não é assim que se garante independência face ao cliente. Quem procura os serviços de um designer, procura uma solução terrena para um problema real. E é com os pés bem assentes na terra que devemos dar resposta. Se lidamos com matérias subjectivas, as escolhas têm de ter critérios. Critérios com objectivos específicos, com intenções definidas, com propósitos estratégicos. Utilizar vermelho porque o cliente é benfiquista não é critério, a menos que o cliente seja o próprio Benfica. Adequar um resultado a um problema não significa responder a desígnios pessoais de qualquer tipo. Significa, sim, encontrar uma solução de acordo com os princípios do projecto e do público a quem se destina. O design quer-se como uma disciplina consequente, e é neste sentido que tem de ser encarado. Pelo cliente e pelo designer.
Carregamos a sina de exercer uma actividade regularmente confundida com as suas próprias ferramentas. Mas não podemos permitir que essa seja a sua definição fora das universidades. Mais do que uma caixinha de ferramentas, o design é, acima de tudo, uma disciplina de projecto, com um sentido de missão e assente em capacidades de conceptualização, pensamento sobre o abstracto e planeamento objectivo, que resultam numa vocação criadora disciplinada, geradora de mais-valias úteis e tangíveis. É provável que quem nos contrata não tenha esta noção tão presente, mas cabe-nos a nós, enquanto designers, agirmos como tal.